segunda-feira, 29 de novembro de 2010

tão belo como o meu mau gosto


Confesso-te que eu queria ser forte
como aquele raparigo do Rio,
que purifica a sua alma e
esconde-se dos 40º na água fria e salgada do mar,
sem desfazer-me ao cuspir sentimentos truncados
para os seus ouvidos fartos de tanta
canção antropofágica dos revolucionários anos 60
ao exprimir tudo o que eu tenho
sufocado e comprimido dentro do peito desamparado.

Onda de desejos que quebrou em mim,
encha-me de alegria e venda-me o seu corpo
borrado pelo nakin petulante.
Mastigue os poderes ideológicos e
dance ao som do tamborim.
Quebre CDs e ouça vinis.
Jogue fora o diamante e presenteia-me
com a rosa mais deslumbrante do jardim.
Tão belo como o meu mau gosto causador de
desgosto na minha retina queimada
pelo seu cintilante sorriso desgracioso e inibido.
''Seja marginal, seja herói''
Seja a minha pop art, seja o meu concretismo.
Digere-me junto às vanguardas e componha uma canção
para o nosso movimento de afeto musical.
Tome uma cerveja, escreva o meu nome na areia.
Diga-me que vai bem e que volta-te melhor ainda.
Plante e colha com as mãos sujas de terra
molhada a pimenta e os amigos cordiais.
Ande dolorosamente descalço no nosso caminhar errante.
Leia livros em brancos e redija romances bizarros.
Solte pipa na vila sem vento e cruze a avenida pinheiros.
Rasgue dinheiro, o destruidor das cousas belas.
O céu é tão bonito, pinte-o de laranja e
guarde sua identidade no bolso direito da calça.
Beije-me com vontade e ofereço-te a minha mais solene paz.
''Seja marginal, seja herói''
Seja compositor, seja o meu amor.

admiração verde musgo

Há pessoas que enamoram e deslumbram-se ao enxergar o verde das árvores caladas.
Há pessoas que choramingam por não poderem divisar o verde do gramado do vizinho ao lado.
Há pessoas que contemplam o verde como uma evasão da realidade.
Há pessoas também que não tem tempo para descortinar qualquer tipo de verde que seja: lima, abacate, esmeralda, primavera, oliva, escuro, claro, desbotado... Os derivados sujeitos de verde que enche de regozijo a peça da vida.
Eu exclusivamente admiro-me com o categórico verde musgo do seu allstar pisante que sobe próspero a serra entre as folhagens verde-bandeira buscando sua altura máxima até se avizinhar da minha airosa e acanhada poeira estelar de benevolência refletida na água verde ocasional do mar e realçada por seus olhos turvos e azuis, os quais me tomaram e provocaram uma contenda pertinaz com a minha órbita serena verde-marciano.


terça-feira, 9 de novembro de 2010

janela quadrangular



O sol seguia árduo abaixo do horizonte
convocando a magia das trevas para
enfeitiçar e dominar o ilimitado céu dos amantes.
E o senhoril tempo sucedia como uma roda gigante
intimando-me continuamente a respirar no seu ritmo.
Eu tinha um minuto para observar a
bela andorinha pousar. Após seu pouso,
sete dias se passaram e o
quarto crescente do meu ardor
incendiou-se em uma formosa lua cheia
para a qual era admissível contemplar da janela
quadrangular da parede revestida de
massa corrida do meu quarto aceirado
que evitava a propagação das chamas
do lume de seu amor desvairado.

A janela quadrangular que emoldura a lua
é também a transitante dos seus passos
desajeitados que acodem até mim
toda noite lunática para
colocar-me na cama e sonhar
enquanto a ópera do seu acalanto age
como um acantodáctilo no
deserto da minha audição afagada
por sua voz quimérica e sedutora.


''Afortunada eu subsistir incessantemente em uma noite inflamada de lua cheia... ''

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

esquina de amores e dores

Ontem à noite eu conheci um errante
heróico entre a nevoa da sociedade.
Ele progredia fausto e enfarpelado
contracultura do maldizente bairro.
Com interjeição de admiração
roubou-me o juízo perspicaz. Satisfeito,
virou a secreta esquina de amores e dores e
foi-se embora junto a fragrância
do caminhar fétido que se despedia entre o luar.