quinta-feira, 1 de setembro de 2011

basta


A ficha cai,
mas você insiste em
agachar-se e
pegá-la
quantas vezes os
seus joelhos suportarem.
Ossos fracos amenizam,
talvez,
a condolência da sentença.

Que meus joelhos
fragmente-se de tanto
vocábulo desprovido de significação,
para que assim,
uma noite,
eu volte a trilhar e
marcar minha passagem
na areia digna de fé.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

conhecimento imediato

Obstinar-se, teimar, perseverar constante em um conhecimento imediato.
Noção resplandecente, como o tempo claro: sem nuvens, límpido e sereno.

Contornos claros demarcam a disposição sincera da minha alma.
Se tu queres ter cautela, aceitarei ao cumprimento das cláusulas deste.

O elemento motor central da circulação sanguínea pulsa pelo teu fitar,
não atire sentimentos de benevolência aos ventos com o teu leque malévolo,
ou torne-me ciente para uma viagem gratuita nesse vento eu experimentar.


domingo, 28 de agosto de 2011

apego distante

Amo um passado que ainda não passou.
Saudade, recordação melancólica
esmaga-te o peito,
opõe-se a virtude
sem o desígnio de ferir-te.
É uma amargura tanto física quanto moral,
que não se tem como evitar.
Mas ao mesmo tempo que pesa,
conforta-te por ser afetado pelo tal apreço
que a respiração ofegante do ausente causa na pele
quando os olhos se fecham para senti-la.

Antecipe as voltas do mundo,
o ardor quer viver cada segundo com você como nunca mais.


segunda-feira, 13 de junho de 2011

vibração imponente

Eu dormiria pela eternidade
Ao toque do seu canto sedutor
Em meus ouvidos afortunados.
Eu observaria pela eternidade
O ritmo enfeitiçado de o seu caminhar
Sobre os anéis da minha órbita desatinada.
O seu riso é a quinta nota musical,
Que preenche o vazio dos meus olhos
Para que eu possa contemplar
A sua dança traiçoeira
Ao refrão de um bolero.
Sinto-me bem-aventurado
Ao bailar junto ao seu corpo esculpido na corda bamba
Sobre os guizos das estrelas do céu de sua boca.
Eu respiraria pela eternidade
Para aspirar as notas sopradas
De seus lábios afinados.
Eu viveria pela eternidade
Para tocar a canção mais bela
E cobiçada: a sua imponente existência.

terça-feira, 5 de abril de 2011

escrevo com a mente sucumbida

As mãos petrificadas se desfazem paulatinamente,
enquanto escrevo com a mente sucumbida para cegos e surdos.

A mente é o seu maior poder de agir, de decidir e de mandar.
Você pensa e logo ocupa espaço na imensidão universal.
Você não tem um pretexto para pensar,
você só pensa.
E quando não pensa, sonha, e muda a melodia real
Enquanto a sua alma putrefacta vaga no vácuo.
Impostor é aquele no qual afirma
que a luz lá, propaga-se.

No vácuo nada preenche e nada contém.
É satânico lhes expor tal fato. Por isso,
acorrentem suas almas
enquanto sossegam o corpo afadigado. Pois,
nem toda via é possuidora de um retorno.
E aquilo que te diz a respeito
e não regressa, te aniquila.

Nesse reino de cantigas maldizentes
tudo se resvala no sorvedouro da eternidade.
O seu início te corrompe e o seu fim está por te acudir,
amanhã ou daqui décadas.
Ele te abraçará prontamente
com o seu cobertor de aguardente
e queimará as suas retinas,
tirando-te o devaneio, a fantasia
e as cores manchadas do arcoíris.

É mais satânico ainda depreender
que a perdição dos sentidos é
a mais soberana democracia.
Todos estão predestinados a uma extinção,
mesmo que corram séculos, sendo monarco ou escravo, o
seu nome estoirará junto com o
astro sem luz própria que você habita.

Não estou escrevendo sobre um projeto quimérico,
minhas mãos foram convertidas em pedras.
Estou vivendo contigo veras e
o excelso efeito da airosa borboleta.

uma resenha da roda do samba

    

       A roda do samba, chiba, cateretê ou fandango era uma roda onde se repartiam tristezas e se multiplicavam alegrias. Unia os corpos das crianças dos mais variados tipos em uma única grandeza de benevolência: a alma.
       Amizade, simpatia, honestidade e lealdade eram virtudes honradas pela roda do samba, no qual tinham como a maior regra viver intensamente com um sorriso cintilante, cobiçado pelos deuses do Olimpo, estampado em seus rostos.
       Os sambistas da roda do samba diziam que amavam o sol, mas esperavam ele se esconder no horizonte para saírem à rua e se juntarem no coreto da praça. Diziam que amavam a chuva, mas a fúria de são pedro os impediam de trebilhar de pega-pega, pique esconde e amarelinha. Será que quando as crianças da vila sem vento diziam que amavam o samba era um sentimento pleno que expelia do fundo do peito?
       Um joelho ralado ou um membro quebrado era motivo de inquietação e de maior preocupação para aqueles que eram integrantes da roda do samba. Eles passavam anel de bamba ao som de tamborins e possuíam um imenso paraíso florescido refugiado em suas mentes, esperando apenas uma ocasião favorável para desabrocharem e atrairem borboletas para seus jardins afortunados.
       O planeta Terra girou distinto da roda do samba por vários dias e várias noites, levando consigo o senhoril tempo, o encarregado de tornar as crianças da vila sem vento em adultos subsistindo na hipócrita paz do reino cotidiano.

      As ambições e as preocupações atropelaram o amor dentro dos seus corpos desventurados, e assim, o samba morreu junto com as boas recordações e o paraíso florido de suas mentes, os quais em tempo algum desabrocharam.

quarta-feira, 30 de março de 2011

dualismo

EU - A mente pesa o travesseiro já liquefeito. Como conseguir adormecer e entrar no mundo surreal?
MEU EU - O surreal é toda a brutalidade humana representada numa dimensão paralela. Tens certeza da tua vontade?
EU - Sim, eu tenho certeza desse meu último refúgio. A realidade radical me aflige.
MEU EU - E o que esperas da ilusão, minha cara?
EU - Espero degustar o mais doce estado de afeição viva. O meu rebanho de pensamentos não subsiste mais nos montes belos, não se renova mais nas águas cristalinas e muito menos aspira o desejado ar puro.
MEU EU - Toda vida tem suas belezas. O sorriso derruba a espada. Até que ponto o surreal é um refúgio?
EU - Até o ponto que cada lágrima derramada nesse mundo de vaidade brotar do chão um lindo ramo de rosa vermelha, desenterrando o amor para a vida.
MEU EU - É um belo pensamento, mas... o que diz-te que tal pensamento não pode ocorrer no mundo real? Todos temos um paraíso florescido em nossas mentes, pronto para desabrochar e se exibir, lindo e virtuoso, colorindo o universo.
EU - Quanto mais a Terra gira, mais egoísta e impetuoso o ser humano fica, e o paraíso florido em sua mente morre antes de desabrochar.
MEU EU - Então não há mais esperança? Nem mesmo através do amor?
EU - A ambição circula mais forte que o amor dentro dos seus corpos desventurados, e a esperança jamais se extinguirá, pois ainda há muito para os homens cobiçarem.
MEU EU - E toda essa cobiça não seria também em busca do amor? A ambição, muitas vezes, é a chave para a evolução.
EU - Quem está em busca do amor não o cobiça, apenas o quer deslumbrar e sentir. A chave para a evolução é a paz, a serenidade e a honestidade, e não a ambição, palavra negativa.
MEU EU - O mundo é o equilíbrio entre o positivo e o negativo.
EU - Talvez esse seria o mundo ideal para a sociedade desequilibrada.
MEU EU - A sociedade é imperfeita, desigual e injusta. É isso que o ser humano criou, e é assim que o fim dos tempos chegará até nós. Mas digo a sociedade. O mundo é paradoxal: frio e belo, escuro e iluminado, abatido e amável, livre para todos os sentimentos se aflorarem. É um equilíbrio pleno.
EU - Então o equilíbrio é parte do mundo perfeito, igual e justo. Logo, vivemos em um mundo desequilibrado, no qual uma minoria exerce poder sobre uma maioria. A desigualdade vive intensamente estampada na opressão.
MEU EU - Mas... se as pessoas não são iguais, como viveremos numa sociedade igual para todos?
EU - As pessoas habitam o mesmo e único planeta, superlotado de hipocrisia na atmosfera, de humanos completamente desumanos.
MEU EU - Se queres sonhar, abandonará a realidade sem ao menos dar valor à sua luta.
EU - Vou procurar respostas nos sonhos plenos.
MEU EU - As respostas estão aqui.
EU - ...


Laura e Alberto.

segunda-feira, 21 de março de 2011

pensamento das 15 horas

É uma afeição viva que habita nossas almas nos dando o mais intenso prazer de sentir a sua beleza. Duvido que as mais belas palavras do mundo sejam capazes exprimir esse momento mágico de puro apego.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

ação da imaginação



Cale-se,
Eu gosto do seu silêncio vazio.
Da sua ausência de sopro
Que me agride em tudo dizer sem nada pronunciar.

Vire-se,
E entrelace-me em seus braços
Frios e cobertos de geadas.
Assim, amenizando o meu ardor pertinaz
Causador de tanta discórdia dentro do peito perturbado.

Alguém já contou-te o efeito surpreendente
que o seu sorriso acanhado provoca? E o quanto
o céu estralado da sua boca é cobiçado pela minha?
Talvez seja apenas uma ação da minha imaginação,
Mas eu sempre quero estar lá quando você estiver.

Invejar o lençol branco que cobre-te enquanto dorme
Já virou uma obsessão presa em minha mente.
Dane-se as minhas boas maneiras, eu não consigo
Achar as palavras certas para dizer-te
Que eu não quero que vá embora amanhã
Quando eu acordar e sentir a sua falta.